HISTÓRIA DA SBOT/MG
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) foi fundada em 19 de setembro 1935. Apenas nove meses depois, foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT) em São Paulo, em 1º de julho de 1936, o que consolidou sua principal vocação: cuidar da atualização científica e educação continuada dos seus associados.
Em 1958, o Departamento de Ortopedia da Associação Médica de Minas Gerais realizou um convênio com a SBOT, sendo então oficialmente criada sua regional em Minas Gerais. Ela vinha sendo estruturada, desde 1957, a pedido do presidente da SBOT, doutor Domingos Define, que solicitara ao professor José Henrique da Matta Machado para criá-la em Minas Gerais.
Atendendo ao pedido, o professor Matta Machado estruturou a regional, em 1958. O primeiro presidente eleito, então, foi o doutor Pedro Sales, um dos precursores da especialidade em Minas e já falecido. Ele dirigiu a SBOT de 1959 a 1960, tendo como sucessor, no período de 1961/1962, o doutor Márcio Ibrahim.
A entidade nacional já tinha 33 anos de existência, mas sua área de influência ainda era muito localizada e com uma representatividade pequena em relação ao número de ortopedistas de todo o País — cerca de 250. Um exemplo claro disto: todos os congressos promovidos pela SBOT, até então, tinham sido realizados nos estados litorâneos, sendo a maioria deles concentrados no eixo Rio de Janeiro-São Paulo.
Mesmo antes da criação da regional mineira, havia um grande interesse que Belo Horizonte sediasse um congresso nacional. Várias gestões trabalharam para que ele se realizasse na capital mineira, em 1955.
Durante o 10o Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia, no Rio de Janeiro, em 1953, o professor José Henrique da Matta Machado foi eleito presidente da Comissão Executiva para organização do 11o Congresso a ser realizado em Belo Horizonte. Ele renunciou ao cargo, em 20 de novembro de 1954, através de uma carta em que explicou “ter tentado várias providências para levar adiante o Congresso, não obstante ter considerado, desde o início, que a cidade de Belo Horizonte não possuía ambiente científico e ortopédico para enfrentar um grande evento da SBOT” e expôs ainda duas razões primordiais para a renúncia: “após um concurso muito absorvente para professor da Faculdade de Medicina da UFMG a que se submetera, estava empregando os maiores esforços para superar os múltiplos obstáculos que se lhe deparavam para organização do ensino da disciplina, carente dos elementos ‘indispensáveis'”.
Além disso, esclarecia que, “concomitantemente, exercia as funções de Chefe de Serviço Ortopédico da Fundação Benjamim Guimarães, com intensa atividade médica e burocrática, o que lhe roubava a maior parte do tempo disponível”.
O congresso não aconteceu em Belo Horizonte, mas em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 1956, o que também levou à eleição do doutor Elias Kanan para a presidência da SBOT. Mas transformou-se em um sonho para o doutor José Henrique, que o concretizou uma década depois.
No período posterior a 1958 até o ano de 1965, a SBOT/MG associou-se à Associação Médica de Minas Gerais e ao Conselho Regional de Medicina, ganhando força e representatividade junto à classe médica, englobando os especialistas não-membros. No período, ela representava também o departamento de Ortopedia da AMMG.
Quer dizer, ela foi crescendo gradativamente e com um número maior de associados porque o ensino da Medicina no Estado também abrira novos horizontes. As faculdades surgiram em todo o interior, como as de Juiz de Fora, com o professor de Ortopedia Maurício Medeiros Duarte, formado no Rio de Janeiro; a de Uberaba, oficializada pelo presidente Juscelino Kubitschek e que teve entre os seus primeiros professores, o doutor Alvaro Lopes Cançado, que havia sido jogador de futebol da seleção brasileira com o apelido de Nariz, e se especializou em Ortopedia nos EUA; a de Uberlândia, onde o primeiro professor foi o ortopedista Ivan Miranda, treinado na Escola Paulista de Medicina; a de Barbacena, com o professor Airton Muniz de Carvalho, que tinha feito o seu treinamento no Hospital Felício Rocho, antes de se especializar em Nova York; a do Sul de Minas, com sede em Pouso Alegre, com o doutor Vitor Romeiro, especialista pela Faculdade dos Servidores do Rio de Janeiro, atendendo a uma reivindicação de toda a região, que já tinha faculdades de outras áreas. E a de Montes Claros, que teve uma participação decisiva do sociólogo e escritor Darcy Ribeiro. Tendo sido ministro da Educação do governo João Goulart e um dos fundadores da Universidade de Brasília Darcy fez implantar em sua terra a faculdade, que é bom salientar, seguiu uma orientação socialista, ao levar assistência especializada aos casos mais graves de todo o Norte mineiro, o que acabou resultando em um padrão de excelência, que persiste até a presente data. Por isso mesmo, ela tem hoje um dos melhores currículos do País na avaliação do MEC.
A consequência natural do crescimento da SBOT/MG e o reconhecimento nacional do avanço da Ortopedia mineira levaram à eleição do professor José Henrique da Matta Machado para a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, durante o biênio 1965/1967. Nesse tempo, aconteceram tantos fatos de destaque que o historiador Antônio Bruno da Silva Maia afirma em seu livro História da Ortopedia Brasileira: “0 Congresso Brasileiro de Ortopedia de 1967 marca o amadurecimento da Sociedade Brasileira de Ortopedia”. Foi a realização do grande sonho de José Henrique da Matta Machado e para concretizá-lo “tratou-se de construir um grande galpão, na área de estacionamento da Faculdade de Medicina da UFMG, para abrigar as exposições científicas e comercial”.
Texto extraído do livro “A Ortopedia nas Gerais – Memórias da SBOT-MG” de André Carvalho, 2008.
EX-PRESIDENTES DA SBOT/MG
A Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia foi fundada e presidida em 1958 pelo professor José Henrique Matta Machado. Desde então, a história da SBOT/MG vem sendo construída com o trabalho e a dedicação de seus presidentes eleitos e suas diretorias. Este espaço homenageia aqueles que ao longo dos anos cuidaram de manter a principal vocação da sociedade: cuidar da atualização científica e educação continuada dos seus associados.
A PRIMEIRA RESIDÊNCIA MÉDICA E OS PRIMEIROS SERVIÇOS DE ORTOPEDIA DE MINAS GERAIS
Quando o doutor José Henrique da Matta Machado, incentivado pelo doutor Baeta Viana, foi aos Estados Unidos estudar e voltou cheio de ideias e conhecimentos novos, foi convidado por Baeta a instalar, em 1946, em um dos andares do prédio de doentes de tuberculose do Hospital da Baleia, uma clínica audaciosa e inovadora. Aí instalou-se, também, o primeiro programa de pós-graduação em Ortopedia. Foi a primeira clínica de Ortopedia do Brasil, nacionalmente famosa, atraindo para Belo Horizonte estudantes interessados de todo o País.
Na época, logo após a Segunda Guerra, só existia um serviço de residência médica que funcionava no Hospital dos Servidores Públicos no Rio de Janeiro. Era uma residência em várias áreas, inclusive Ortopedia. Mas, uma residência ortopédica, de tempo integral, de dedicação exclusiva do médico ao tratamento, com responsabilidades gradativas até a convalescença e a liberação do paciente, foi a da Baleia a primeira do Brasil.
A entrada de José Henrique como professor da Faculdade de Medicina da UFMG também teve o apoio do professor Baeta Viana. Incentivado pelo mestre, fez o exame para a cadeira de Cirurgia Infantil, já dentro da concepção da Ortopedia moderna. Tornou-se livre-docente em 1950 e professor catedrático em 1954.
A sua entrada na faculdade guarda uma história saborosa, que só os mais antigos profissionais da área conhecem. O concurso consistia de uma prova teórica, uma prática, com o ponto sorteado no dia anterior ao exame, e títulos. Na prova prática, o ponto sorteado foi “uma aula sobre obstrução intestinal”. Uma coisa completamente fora do que o doutor José Henrique tinha estudado nos Estados Unidos. Ele ficou em dificuldade, mas foi ajudado pelo professor Pedro Sales, como já vimos um dos precursores da área e titular da faculdade, e por doutor Gastão Veloso, amigo de ambos e ortopedista do Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro, além de mineiro de Belo Horizonte.
Vendo José Henrique sem saber o que fazer, pediram que fosse dormir, com a ajuda de um comprimido. Prepararam então o esboço de uma aula e, no dia seguinte, José Henrique a leu e releu muitas vezes. Por sua inteligência, absorvendo o conteúdo preparado pelos colegas, fez o exame com sucesso. Venceu o concurso para a cátedra e tornou-se um dos mais importantes ortopedistas brasileiros, embora uma de suas provas tivesse tido o ranço da antiga ortopedia, que exigia o conhecimento de todas as técnicas de tratamento infantil’ inclusive: dar uma aula sobre obstrução do intestino
O doutor José Henrique deixou uma legião de discípulos, tanto na faculdade quanto no Hospital da Baleia, como o doutor Hygino Ferreira, que se especializou nos Estados Unidos, voltou à cidade, onde ficou por pouco tempo, já que depois, fez concurso para o Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro, e nele trabalhou até o fim de sua vida profissional. Márcio de Lima Castro foi outro destaque: depois da faculdade e da residência na Baleia, fez especialização nos Estados Unidos. Na volta, foi o responsável pela montagem de um centro de reabilitação no Hospital da Baleia. Ele se entusiasmou pelo serviço de recuperação e montou o Hospital Arapiara, um dos primeiros e bons hospitais de reabilitação de Minas, que, mais tarde, deu origem à Associação Mineira de Reabilitação, também fundada por ele, assim como a primeira escola de Medicina Física e Reabilitação, em convênio com a Universidade Católica.
Em 1950, foi instalada a Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, tendo como professor de Ortopedia doutor Brasílio Ruy Prates, cirurgião geral de formação, com bastante experiência em operações do aparelho locomotor. Seu primeiro curso foi ministrado em 1956. Em 1959 foi substituído na cadeira pelo doutor Marcílio Soares, que foi seu titular até 1996, quando o doutor Neylor Pace Lasmar a assumiu. No início, ela pertencia à Universidade Católica e, mais tarde, a faculdade passou a ser mantida por uma fundação, criada pelo doutor Lucas Machado.
O professor Brasílio Ruy Prates foi responsável pela formação de grandes ortopedistas na Santa Casa, como Mário Chaves Corrêa, Gutemberg Salazar e Hélio Lopes.
Ainda na década de 50, vários ortopedistas regressaram a Belo Horizonte, depois de residência no exterior. O doutor Nicolau Cardoso Miranda (Instituto Rizzolli, Itália), organizou o serviço de Ortopedia do Hospital do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais; o doutor Marcilio Soares da Silva (Nova York, EUA), anteriormente citado, organizou o Serviço de Ortopedia da Santa Casa e assumiu a cadeira de Ortopedia na Faculdade de Ciências Médicas, em 1959; o doutor Márcio Ibrahim de Carvalho (Pensilvânia e Califórnia, EUA) organizou o serviço de Ortopedia do Hospital Felício Rocho, sendo o formador de várias gerações de especialistas e o doutor Délio Menicucci (Chicago, EUA) que atuou inicialmente no Hospital Felício Rocho e, pouco depois, mudou-se para Uberlândia, para a equipe da recém-inaugurada Faculdade de Medicina da cidade.
Em 1952, foi inaugurada a Faculdade de Medicina de Juiz de Fora, tendo como primeiro professor Maurício Medeiros Duarte. Em 1954, o doutor Álvaro Lopes Cançado foi o primeiro responsável pela cadeira de Ortopedia da recém-fundada Faculdade de Medicina de Uberaba.
Texto extraído do livro “A Ortopedia nas Gerais – Memórias da SBOT-MG” de André Carvalho, 2008.