A função de gestor é por si só um grande desafio na medida em que impõe como finalidade a busca da excelência a custos mínimos. Em tempo de pandemia, as tensões aumentam. Para falar sobre esses e outros desafios, principalmente para o gestor em início de carreira, o jornal SBOT MINAS entrevistou o Dr. Auro Sérgio Perdigão. Ele é graduado em Medicina pela UFMG, com formação complementar em Gestão de Serviços de Saúde. Tem Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia/HC-UFMG e em Cirurgia da Mão/Hospital São Francisco de Assis. É membro titular da SBOT e hoje coordenada a UPA LESTE da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Também atua no Hospital Risoleta Neves, Clínica HCCOOP, ambos em BH, e na Santa Casa de Caeté.
Quais são os principais desafios de um gestor em ortopedia pós-residência?
– Tornar gestor nos tira da zona de conforto e passamos a observar o sistema de saúde em sua integralidade. A UPA, como atenção secundária, é intermediária em complexidade entre UBS e hospitais, e o grande desafio é captar todas as nuances da rede. A função de um jovem é por si só um grande desafio na medida em que impõe como finalidade a busca da excelência a custos mínimos.
Como gerir com eficiência tendo esse grande desafio para vencer?
– Gestão em sua essência é otimizar os processos de trabalho, aprimorando as boas experiências e maximizando os recursos disponíveis. Principalmente em tempo de pandemia as cobranças e tensões são muito maiores.
Como o jovem gestor/ortopedista enfrenta essas situações tendo que apresentar resultados positivos?
– A histeria inerente à pandemia é acelerada pela ausência de verdades científicas, e tende a se controlar pelos bons resultados advindos da experiência em curso. É preciso estudo constante, assimilar protocolos e avançar no conhecimento baseado em experiência.
Em tempo de pandemia, de que forma o senhor está trabalhando?
– Durante a pandemia, observo uma redução do número de urgências traumatológicas e de pacientes ortopédicos eletivos no consultório, justamente pela recomendação do isolamento domiciliar. No consultório tento priorizar pacientes com demandas mais urgentes, aumentando o intervalo entre uma consulta e outra para diminuir o contato entre pacientes na sala de espera. Conforme também recomendação do Ministerio da Saúde, oriento o uso de máscara durante a espera, lavarem as mãos com água e sabão e usarem periódicamente álcool em gel. O sentimento de impotência e fragilidade perante o vírus é geral.
Qual é a sua visão sobre o ortopedista do futuro? Qual será a formação necessária para esse profissional?
– Percebo a necessidade de ser cada vez mais envolvido com as inovações tecnológicas dos implantes ortopédicos, aprimoramento das técnicas cirúrgicas e atualização teórica periódica, baseada em artigos científicos. Como foi a sua formação profissional? – Tive o enorme prazer de ser formado por grandes ícones da ortopedia brasileira, como o Dr. Arlindo Gomes Pardini Jr e o Dr. Marco Antônio Percope de Andrade, que me ensinaram não somente o manejo teórico e técnico, mas a priorizar a ortopedia centrada no melhor cuidado para o paciente. Tenho ótimo relacionamento com meus mestres. Eles são super solícitos para discussão de casos clínicos mais complexos.
Como você vê o momento atual?
– O momento deve ser de união e solidariedade em todos os segmentos de nossa sociedade. Percebo alguma ansiedade em relação à dinâmica de atendimentos a curto e médio prazos devido à pandemia, que deverá ter como desdobramentos a redução do acesso a planos de saúde devido à instabilidade econômica, e aumento da demanda no sistema público. O diálogo entre ortopedistas é e será essencial para nos preparamos para os desafios eminentes.
Qual a importância da formação científica para o jovem ortopedista?
– É fundamental que tenha uma ótima formação e que esteja sempre acompanhando os avanços científicos. Nesse sentido, programas de educação continuada são necessários para oferecermos sempre o melhor tratamento para nossos pacientes. Congressos nacionais e internacionais, reuniões clínicas, com discussão de artigos científicos e casos clínicos, e, agora, as webconferências, são ótimas alternativas.
Como o senhor avalia a importância do envolvimento na defesa profissional do ortopedista?
– Como qualquer profissional, o ortopedista pode estar sujeito a questionamentos técnicos, jurídicos e éticos e deve ser amparado pelas nossas respectivas entidades médicas o que se refere à defesa profissional. Vivenciamos a judicialização da medicina e precisamos nos fortalecer enquanto classe.
Como avalia a situação do jovem ortopedista na área pública?
– O jovem ortopedista encontra mais oportunidades de trabalho justamente na área pública, sobretudo num momento de escassez de concursos públicos. Percebemos vínculos temporários de trabalho (contratos administrativos), fixação em regimes de plantão e dificuldade de estabelecer-se em ambulatórios próprios e de referência em sua subespecialidade. Percebo, com maior frequência, a presença de subespecialistas em plantões de urgência.
E na área privada?
– Estabelecer-se na área privada ainda jovem não é uma realidade para a maioria, sobretudo com o mercado de trabalho cada vez mais disputado. Ainda que nas capitais percebemos um mercado de trabalho por vezes saturado, a vivência ortopédica no interior é uma possibilidade. Há cidades de médio porte, inclusive, com carência de ortopedistas, sobretudo, de subespecialistas. Acredito que a interiorização do médico ortopedista é a tendência a curto e médio prazos, devendo serem criadas, inclusive, políticas públicas de fixação desse profissional nessas localidades.